1635 - 1711

"...Mas algumas pessoas me acusam disso como se fosse um crime – o fato de eu dizer que o próprio ato da fé, isto é, o próprio crer, é imputado por justiça, e isto propriamente dito, e não como uma metonímia. Eu aceito esta acusação, já que eu tenho o apóstolo Paulo, em Romanos 4 e em outras passagens, como meu precursor no uso desta frase. Mas a conclusão a que eles chegam com esta afirmação, a saber, 'de que Cristo e sua justiça são excluídos da nossa justificação, e que nossa justificação é assim atribuída à dignidade da nossa fé', isto eu julgo não ser possível deduzir das minhas afirmações. Pois a palavra 'imputar' significa que fé não é justiça em si mesma, mas é graciosamente contada por justiça, circunstância essa que retira toda dignidade da fé, exceto aquilo que vem por intermédio da graciosa e condescendente estima de Deus. Mas esta graciosa condescendência e estima não vem sem Cristo,  mas em referência a Cristo, em Cristo e por causa de Cristo, a quem Deus apontou como propiciação através da fé no seu sangue. Eu afirmo, portanto, que fé é imputada a nós por justiça por causa de Cristo e sua justiça. Neste enunciado, a fé é o objeto da imputação; mas Cristo e sua obediência são a causa impetratória ou meritória da justificação. Cristo e sua obediência são o objeto de nossa fé, mas não o objeto da justificação ou imputação divina, como se Deus imputasse Cristo e sua justiça a nós por justiça. Isto não pode ser já que a obediência de Cristo é justiça propriamente dita, de acordo com o mais severo rigor da lei. Mas eu não nego que a obediência de Cristo seja imputada a nós, isto é, de que ela é contada ou reputada por nós ou para o nosso benefício, pois isto – o fato de Deus olhar a justiça de Cristo como tendo sido realizada por nós e para o nosso benefício –, é a causa de Deus nos imputar a fé como justiça."...


Wilhelmus à Brakel - The Christian's Reasonable Service. Vol. 1Grand Rapids: Reformation Heritage Books, 1993, vol. 2, p. 701-702

Leave a Reply